segunda-feira, 29 de junho de 2009

Meus pais

Por falta de um, eu tive dois pais. Um deles dizia que se mãe fosse bom a gente tinha duas, bem... isso deve dizer alguma coisa sobre pai. Um deles era jornalista. O outro era médico. Um de uma mistura tipicamente brasileira, quase indecifrável. O outro japonês. Cada um com sua especialidade, mas com algumas coisas em comum. Entre elas o reconhecimento e carinho que tinham de seus colegas de profissão, o aprofundamento de seus conhecimentos que os tornaram referências em suas áreas, o prazer em comer e beber, a paixão pela música brasileira e o intenso e apaixonado amor, se podemos assim dizer, pelo futebol. Um deles, o jornalista, escreveu certa vez que "se é verdade que o futebol é uma doença, como querem alguns elitistas, então certamente será hereditária, como certas febres passionais, que nos corroem a alma de vez em quando. E não haverá, felizmente, vacina capaz de impedir que se alastre. Passará de pai para filho”. O outro, o médico, me levou pela primeira vez a um estádio de futebol, para assistir um fatídico 3X2 que o Corinthians tomou do Vitória da Bahia, no Morumbi, com um gol válido anulado pelo juiz, que garantiria nossa classificação. Eu, uma filha apaixonada pelos meus pais, sou também apaixonada por futebol. Nada comparado com meus amigos que mantém blogs sobre o tema e tem de cabeça todas as escalações, decisões e gols, ou que fazem loucuras para ver seu time jogar. Não, eu não sou assim. Mas sinto dentro de mim uma alegria imensa quando meu time entra em campo. Tenho dor de barriga em véspera de decisão. Taquicardia 15 minutos antes de o juiz, ops! árbitro, apitar o início do jogo. Como todas as minhas unhas até ele apitar o final. Eu xingo. Bato palma. Reclamo porque o jogador não fez a falta pra parar a jogada. Abraço o figura desconhecido do meu lado (que esqueceu do desodorante) e pulo loucamente quando meu time faz gol. Por essas e por outras eu posso dizer que tenho também uma amor apaixonado pelo futebol. Fico rouca no dia seguinte. Mas, uma das coisas que os meus pais não tinham em comum era o time pelo qual torciam. O jornalista palmeirense. O médico corinthiano. Os dois não estão mais entre nós. O jornalista desde 1986. O médico desde 2005. Nesse ano de 2009, na decisão do Campeonato Paulista, eu estava longe de casa, acabou o jogo eu liguei para os meus irmãos e a primeira coisa que disse foi "que pena que o papai não está mais com a gente para vibrar com o Timão". Às vésperas de mais uma decisão, eu já sinto aquela dorzinha de barriga e a saudade de torcer/sofrer junto com meu pai. E penso que meu pai, jornalista, iria compreender essa dissidência, pois de fato o futebol é uma doença, dessas que se passa de geração para geração, com gene ultra dominante.

terça-feira, 2 de junho de 2009