domingo, 18 de janeiro de 2009

Dia 4 – Montevideo

Apesar do colchão em V o Hotel Libertad II surpreendeu. Nada que um bom alongamento e um banho (ducha deliciosa no banheiro espremido) não consertem. Ah! Mas outro aviso importante para quem está considerando ficar nesta super pechincha, o quarto tem uma varandinha que dá pra rua, que por sua vez é um tanto barulhenta à noite, com carros, motos e ônibus. Se o barulho incomodou o Maurício, minha mãe piraria de vez! Recuperados, tomamos nosso desayuno no La Pasiva da Ciudad Vieja (Calle Sarandi, 600). A opção “capuccino (café com leite) + jugo de naranja + 2 media lunas c/ manteca e marmelada” sai em conta e satisfaz por UR$39,00 por pessoa. Andamos pelas ruas paralelas reconhecendo o terreno. Montevideo tem uma arquitetura muito interessante e acredito que os prédios da Ciudad Vieja e do centro sejam tombados – as fachadas pelo menos – porque reparei que vários prédios eram só a fachada, por dentro vazios. Almoçamos no Café Bacacay, em frente ao Teatro Solís. Aproveitamos o prato do dia, nhoque – muito mais comum no Uruguay do que no Brasil. Todo dia 29 de cada mês a maior parte dos restaurantes uruguaios têm nhoque como prato do dia, herança clara da grande imigração italiana que chegou no país nas primeiras 3 décadas do século XX. Cardápio: nhoque (UR$185) e milaneza c/ salada mista (UR$160) acompanhados por vinho tannat Juan Carrau 2005 Reserva. De sobremesa torta de maçã com sorvete de creme. Os dois pratos são mais que suficientes para nós dois, mas talvez uma garrafa de vinho seja um pouco demais. Eu fiquei com uma ressaquinha... Depois do almoço pegamos o carro e seguimos a beira-mar/rio sentido norte. Paramos numa prainha (no 16000m da pista de corrida) que nos lembrou muito Seattle, com um vento frio e água geladíssima.Na volta para o centro, entramos nos bairros mais afastados do mar/rio, bem residenciais, com casas grandes e poucas ou baixas cercas. Passamos pelo Estádio Centenário, onde o Uruguay venceu a primeira edição da Copa do Mundo, e entraríamos no Museu do Futebol se ele estivesse aberto... mas não abre às segundas e terças-feiras. Tentamos chegar a tempo no Mercado do Porto para provar o famoso medio y medio no Café Roldós, mas já estava fechado quando chegamos. Aliás, o ato de “estar fechado” em Montevideo merece um certo destaque. Como chegamos num domingo, pensamos que na segunda-feira tudo estaria a mil, inclusive o escritório de informações turísticas. Ilusão nossa. Apesar de o comércio estar mais agitado na segunda-feira, inclusive as lojas de música (palácio de La Musica) que, segundo o Maurício, vendem produtos que não são encontrados no Brasil, os pontos de visitação turística, até mesmo de informação, estavam fechados. A informação turística fechada por férias (!!!) e os museus, em sua maioria, só funcionam de quarta a domingo. Portanto, se vier a Montevideo, programe sua chegada para quarta ou quinta-feira. Algumas pessoas também nos perguntaram sobre os preços no comércio de Montevideo. Bem, nossa impressão é que os preços - de roupas, calçados, computadores, por exemplo – são os mesmo do Brasil, com pequenas diferenças para mais ou para menos. A curiosidade é que alguns produtos são anunciados em US$ (dólar americano), tais como guitarras, CDs importados, eletroeletrônicos. Talvez por isso a presença de casas de câmbio seja tão grande ao longo da Avenida 18 de Julio. Por falar em câmbio, dê preferência para trocar o dindin nas redondezas da Av. 18 de Julio, pois as taxas pagas pelas casas mais próximas do Mercado do Porto ou da Ciudad Vieja são um pouco piores. O tango bicentenário A caminho do Mercado do Porto para provarmos o medio y medio, uma lojinha nos chamou a atenção. De cara fica um pouco difícil identificar se é uma loja, uma oficina ou simplesmente um lugar onde um senhor narigudo e um pouco mau-humorado passa horas com seus brinquedinhos musicais. Na vitrine pôsteres de tango, a biografia de Piazzola (escrita pela filha dele), fotos dos Beatles e um baixo elétrico igual ao do Paul McCartney. Tudo isso em meio a pedaços de madeira, poeira, teias de aranha e outros objetos não identificados. Na parte de dentro, ao fundo, pedaços de instrumentos, ferramentas e à direita uma prateleira com meia dúzia de bandoneones decorados com detalhes em madre-pérola (avaliados, segundo o músico da dupla viajante, em cerca de US$2,5 mil). Diante de tais evidências de que ali habita um amante incondicional da música, lancei um “será que ele saberia onde podemos ouvir um tango aqui em Montevideo?” e fui ouvida! Quase na saída esse senhor nos disse que haveria uma apresentação de tango às 20h30 no teatro Atheneo, gratuita, e que estávamos convidados a aparecer. Ao chegar ao Atheneo de Montevideo (Plaza Cagancha, 1157), nos deparamos com 70% da população da capital federal, com mais de 70 anos!!! Falando sério agora, a média etária devia estar entre 75 e 80, sendo eu e o Maurício pertencentes aos 3% dos “abaixo de 40”. Todos velhinhos e velhinhas arrumadinhos e ansiosos pela apresentação. Nós dois, a essa altura, já nos perguntávamos “o que estamos fazendo aqui?” ou ainda, “por onde e como sairemos em caso de incêndio?”... mas quando começou a apresentação nos surpreendemos. Primeiro porque aquele senhor narigudo e carrancudo era o contrabaixista da orquestra. Orquestra típica Juan D’Arienzo, composta por 5 bandoneones, 5 violinos, sendo 1 solista, um contrabaixo (nosso amigo) e um piano. Quando a música começou, o público quase centenário, foi ao delírio e assim continuou pelas quase 3 horas que se seguiram, com direito a dançarinos, cantores convidados e homenagens. A pianista russa (do cara%#o, como diria o Maurício) que estreava no lugar do pianista “aposentado” por questões médicas foi só um dos pontos surpreendentes da apresentação.O espetáculo que estávamos assistindo por acaso, era o fechamento do ano para a orquestra. O dia que todos os que estavam ali esperaram durante todo o ano. Foi uma experiência impagável! E claro que no dia seguinte voltamos à lojinha para agradecer nosso simpaticíssimo anfitrião, e desta vez até que ele e o Mau trocaram umas 15 palavras cada um, sem cruzar muito os olhares e nunca deixando de prestar atenção no instrumento desmontado em cima da bancada. Na saída comemos uma pseudo-pizza no Il Mondo della Pizza (na Av. 18 de Julio) , Maurício partiu para um sorvete de creme no La Cigalle e capotamos no nosso delicioso colchão em V da habitación 1 do Hotel Libertad II.

Um comentário:

João Amorim disse...

Sim,Sim,Sim! Era isto que faltava! Parabéns pelo Blog, pela idéia, e obrigado por compartilhar as viagens conosco.
Não pare!
beijos
João